A rústica morada do campeiro!
De barro, pau-a-pique e santa-fé,
Nesta imensa planura descampada,
Inda sirvo de abrigo a gauchada,
Valente descendência de Sepé.
A cidade sorrida minha estampa
Ao ver-me pontilhando pelo pampa
Como se eu fora uma pária sem valor...
O palácio não sabe, não descobre,
O quanto a minha história é alta e nobre,
Embora eu não lhe tenha o esplendor!
A cidade deslembra a minha origem...
Ignora qu'inda guardo na fuligem
Lembranças do fogão de Tiaraju,
Que eu guardo em cada leiva, em cada palha,
Os resquícios de sangua da batalha
Na qual rolou no campo o índio cru!...
Solitário nos ermos da coxilha,
Eu sou a viva imagem da vigília
A falar, na humildade que componho,
Dos heróis obscuros da querência
Imolados sem glória ou evidência,
Apenas redivivos no meu sonho...
Das horas de ventura ou desgraça,
Quando aqui se formava a grande raça,
Eu recolho, fiel, toda a memória.
Eu sou a testemunha de outras eras
A escrever pelo rastro das taperas
As páginas anônimas da história!