segunda-feira, 15 de agosto de 2011

PRECE DO CAVALO



PRECE DO CAVALO

Ouve, atende tu que és meu dono,
quando te imploro:


Dá-me que comer e dá-me que beber,
trata-me com carinho ao terminar o
trabalho diário que me exiges;
proporciona-me um bom alojamento,
cama limpa e seca, baia larga e espaçosa,
para que eu possa me deitar com comodidade.
Fala comigo.
 

Tua voz me indicará melhor
o que devo fazer, do que
o teu chicote ou as tuas esporas.
Acaricia-me às vezes senão muitas,
que desse jeito te servirei
com mais alegria e muito mais saberei te amar.

Não puxes inutilmente pelas rédeas,
não me castigues ao subir uma ladeira,
não me obrigue a sofrer
pesos superiores às minhas forças.


Não me castigues jamais quando
te não tenha compreendido;
procura sempre fazer-me
compreender o que de mim queres.
Olha-me com atenção todas as vezes
que eu deixar de fazer o que me ordenas;
vê se há alguma cousa que não me convenha
ou me ofenda nos arreios ou nas minhas patas.


Quando vires que evito comer
ou resisto ao bom governo,
examina os meus dentes e as minhas barras,
talvez seja um dente dolorido
ou a existência de ferimentos nas barras.


Não tenhas presa a minha cabeça em posição forçada,
de modo que me prive de deitar,
nem me prives da minha defesa
contra as moscas e mosquitos
aparando-me exageradamente a cauda
e os pêlos dos esporões e das quartelas.
Enfim, peço-te me livres do mormo e das esponjas.


Quando se esgotarem as minhas forças
para o serviço não me separes de ti
para que eu não morra de fome ou de frio;
não me vendas a um dono cruel
que me vá torturar pela fome
e pelo trabalho que eu não posso mais dar.


Tira-me antes a vida
por meios mais brandos e menos dolorosos.
O teu Deus há de recompensar-te
pela caridade com que tratas
um ser inferior que também
nasceu numa estrebaria.

(Poema Prece do Cavalo - Autor Desconhecido
Imagens - Desfile e Cavalgada Feminina, dos CTGs e Piquetes canoenses)
***

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