DIEGO MULLER
Um pouco de infancia...
...e de dança!
Passei uma das semanas passadas toda
(principio de semana) escutando vinis antigos dos quais me trouxeram vários
sentimentos, porquês e lembranças. Isso associado e minha ida ao rodeio de Caxias
de 2013 (cidade que fazia um ano do qual não conseguia subir para rever meus
amigos - e estava com saudade de todos), onde na volta conversei muito com meu
colega de viagem, Arévalo Almeida (originário de um meio dito de enart), com o
tema totalmente em cima das danças gaúchas e do nosso meio dito tradicionalista,
onde esses fatos me inspiraram a estas palavras...
...Me
recordo, em minha infância, da qual em vez de brincar de carrinhos, De skate,
de futebol e tantas coisas comuns a uma pessoa comum (hehe), todas minhas
diversões principais eram baseadas em coisas rurais e do meio da dança e do
espetáculo gaúcho. Imitações de ensaios, de shows, construção de parque de
rodeios, apresentações, gauchadas, tiros de laço, gineteadas e tudo mais...
Chegando até a organizar regulamento de rodeios com minhas próprias normas e
idéias. Coisa de criança viciada da qual viu isso a vida toda. E vez de escutar
rock nacional e gaúcho, minha audição se resumia a passar os vinis de Noel
Guarany, Paixão cortes e de Inézita Barroso para cassete onde eu podia os
escutar em meu quarto, enquanto desquilava um tento para fazer crus barbicachos
para meus chapéus, coldres para algum futuro revolver, bombas de taquapis,
isqueiros de fuzil, passadores de chifres e bainhas para facas e facões. Nessa
mesma época que levei os primeiros trabalhos de Luiz Marenco, de Jorge Guedes e
Joca |Martins, além dos já clássicos temas de Noel Guarany, aos meus colegas de
mirim, de juvenil e, a posterior, de um grupo adulto. Nem todos aceitavam esses
fonógrafos, mas hoje certamente inserido em suas culturas musicais!
Minhas tardes, em vez de seção da
tarde, eram animadas por fitas de vídeos do fegart 93, de farroupilha, onde eu
sabia de cor as apresentações do Ctg Os Serranos, melhor grupo que já vi
dançar, ensinado por meu mestre Rui arruda, imitando até os sapateiros,
entradas, saídas e danças (queromaninha, fandango, gralha azul, etc e etc).
Tempo clássico que não volta mais. Estava lá sentado assistindo e sei o quanto
essa apresentação mudou minha vida! Isso por eu já ter vindo de um meio
totalmente artístico: Comecei a caminhar vendo os ensaios do Tropeiros da Tradição
(antigo), dentro do próprio Brazão, convivi com Terson Praxedes, meu amigo, do
qual sempre gosto de falar sobre dança e cultura! Vi o Eri Assenato dar aula de
danças no Brazão, isso em 91. Freqüentei pia os últimos mobrais, assisti o Xarope
a dançar sua famosa chula, ouvi causos sobre Norton Do Carmo mago da dança),
brincava na casa do Ronaldão, dançarino dos Muuripás... Tudo isso quando meus
pais (tri campeões do estado) dançavam ainda nos primeiros eventos em
farroupilha, onde, pra completar, tinha meu padrinho de nascimento Celso Luz da
Costa (O Celsão), ex dançarino na época dos Gaúchos, como instrutor desse
grupo, dentre outros. Depois veio o fegart e eu sempre lá. Ultimo fegart e
primeiros enarts dai como dançador de chula, tenteando implantar o que eu
pensava (sem resultados, obvio)! 92 em Vacaria acompanhei de perto toda a
revolução que a dança teve, principalmente pelo livro da carta de vacaria ter
sido organizado dentro do Brazão. Revolução essa vinda já do fenart 91, que
hoje muitos se olvidam. Vi bem de perto o barbicacho e o minuano, seguido pelo
Porteira do Mola e dos grupos do Ramiro, matando a pau. Não menosprezo os
outros grupos e as outras escolas, mas somente esses mexeram comigo. Só esses
me emocionaram e fizeram minha memória. Vi bem como esse modo de dança entrou
no RS e em nosso Ctg Brazão
do Rio Grande, e se outras pessoas quiserem mentir, nosso ctg tem memória e
poderá desmentir a qualquer hora... Por isso forçamos os diretores da entidade,
a posterior (98), a trazer um dos que criou esse modo de dançar (que nada mais
era do que apenas seguir o que o Paixão dizia, e ainda diz), tendo como nosso
instrutor o Rui Arruda Antunes, meu instrutor a 16 anos já...
Não aprendi a usar bombacha, não
nasci usando bombacha... Aprendi a saber de onde vem a bombacha e ainda mais
quis vesti-lá depois de saber a historia que existe por traz dela. É um
orgulho! Não uma fantasia e uma norma! É um relato de nações e povos! Isso em
tudo!
Bom...
Essa foi minha infância, essas eram
minhas brincadeiras. Hoje reestudei uns vinis do Paixão, e para surpresa sabia
de cor todas as letras e musicas, clássicos que muitos contestam, mas deu ao
Paixão o prêmio de melhor interprete de folclore do nosso país. Como seria
diferente?... eu gostar de outra coisa, eu seguir outros rumos, defender outras
bandeiras, militar por outras culturas e outros modos sociais de ver o povo?
Como
conseguir não estar a frente de grupos de danças, mostrando minha visão e
aprendizado, e não estar defendendo os meus?
Como conseguir estar apartado do
folk, não gostar do terrunho, do simples? Como não se arrepiar com o folclore?
Esse era
meu destino e é... Na infância ele já se moldou assim, e não foi por acaso.
Em vez de
ver livros de pintar e de colar, minhas leituras (leigas pra época) eram
Fernando Assunção, Paixão Côrtes, Carlos Vega, Barbosa Lessa, Jayme Caetano
Braún, Rillo, Aureliano, Zeca Blau, etc e etc. obvio, Paixão cortes sempre como
leitura predileta. Como não aprender?
Em vez de fazer temas de casa eu
colecionava quadrinhas folclóricas antigas (desde livros e danças açorianas,
argentinas, vindo até Simões Lopes Neto e Augusto Meyer).
Não é por
acaso que o próprio Paixão tem um respeito enorme por minha família e meu CTG
de origem, tanto que em muitas oportunidades pude estar com ele, aprendendo,
ensinando, jogando conversa fora e conhecendo as pessoas com que ele aprendeu
tudo.
Hoje ainda tenho a dança como meu
talento principal, porém divido meu gosto maior entre ela e a Musica, vindo
também dessa mesma época... onde estar entre, ser amigo e ser parceiro de
pessoa que jamais imaginei estar perto, é um motivo de estremo agradecimento e
de aprendizado (principalmente aprendizado)! Meus temas falam de mim e de tudo
que aprendi e vi (independente se vi ou aprendi pouco), junto a meus amigos
rurais e os livros e culturas das quais absorvi. Tudo dos livros e vinis
citados acima tentei ver "In loco", aprender e reescrever, devolvendo
a um povo do qual não conhece e nem sabe de onde apareceu. As vezes me
contestando e contestando as obras... Mas, paciência: a militância não é apenas
de um dia e de uma obra... É de tempos até se chegar ao povo! Quase uma
guerra!!!
Não me
arrependo...
Porém quando perguntam, quem é o
Diego, quem é esse tal de Diego, tenho orgulho de dizer que tenho amigos que me
defendem e dizem realmente o que eu fiz na minha infância (que era sim, uma
brincadeira para mim, que hoje virou coisa seria e responsável), quem eu sou e
de onde venho... Principalmente de onde eu venho!!! Sou isso, uma pessoa
inserida no que defendo. Não sou ninguém... Porem, Sou o que aprendi apenas,
nunca mais que ninguém, e nem menos!!! Sou um gaúcho, não um dançarino ou
alguém de Ctg, para se contestar estilo, modelo de bombacha que uso, tamanho de
lenço, solado de bota, etc! Não sou fantasia: sou o meio!
Não tenho
ganas de sucesso ou de fama... Muito menos de grandes fortunas... Mas sempre
levarei o que penso adiante, pondo o nome dos meus em primeiro plano!
Levantarei essa bandeira sempre, sem
me importar com imagens (mentirosas) ou simbologias criadas para maquiar o que
foi! Levarei o verdadeiro e cru!
Esse é meu
destino: como cerne, sem atenção exagerada a casca!!!
Bom dia a todos!!!...
...E deem cultura a seus filhos!!!
Diego Müller - Canoas, Chácara
Barreto - Janeiro de 2013
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