quinta-feira, 8 de julho de 2010

URUGUAY NÃO MORRE DE MORTE NATURAL, É PRECISO MATÁ-LO

 
Uruguay
Não sei se todo desgarrado comunga da mesma simpatia pelo Uruguai, pois relações de vizinhança despertam sentimentos esquizofrênicos. Mas neste sábado, quando Uruguai acaba de ir-se para as quartas de final da Copa, divido com vocês um texto assinado por Gabriel Izidoro, do Jornal Pioneiro, de Caxias do Sul. O cara é colega da Xu, minha parceira aqui do blog.Um texto tão verdadeiro quanto delicado sobre os castelhanos.
Celestial
“O Uruguai é todo errado. O Uruguai faz siesta. O Uruguai usa papel carbono nos seus bancos sem porta giratória e seguranças de olhar malicioso. Lembra do papel carbono? O Uruguai leva duas horas para terminar uma refeição. O Uruguai tem um presidente cuja única posse declarada é um Fusca 87.
Albert Einstein e Stephen Hawking ensinam que o tempo é a quarta dimensão. Eles nunca foram além de Aceguá, senão descobririam a quinta: o tempo uruguaio. O tempo uruguaio, assim como a subida do morro, é diferente. Você já tentou pedir informação ou as horas _ só as horas _ no Uruguai? A crônica em que se transformará a resposta é um dos indícios de que eles têm uma dimensão paralela para a charla. O Uruguai preza a lentidão das pequenas satisfações.
Tanto quanto os imensos dramas. O Uruguai tem memória para os personagens, mas acredita que nenhum homem é maior que sua façanha. Alcides e Obdulio deram um Maracanazzo ao país, mas não os nomes a gerações e gerações seguintes de seus filhos. O Uruguai acha que todo mundo é mais ou menos igual.
No tempo uruguaio, há pobreza, mas não miséria. Há necessidade, mas não vilania. Nem idolatria. Um médico pode caminhar tranquilamente pela rambla de Carrasco, seja ele ex-presidente ou detentor de um Oscar.
No tempo uruguaio há pausas _ para comer, atravessar a rua ou tomar um mate. O Uruguai acha que todo mundo é mais ou menos igual, exceto quem não toma mate ou, quando sua gente atravessa a fronteira ao norte, restaurante que não oferece pão de cortesia. Mesquinharia com pão é algo que definitivamente não pertence ao tempo uruguaio.
Como outras coisas tampouco. E quando coisas de mundos diferentes colidem dá problema. O futebol uruguaio, por exemplo, foi corroído quando se encontrou com o futebol moderno. Do jeito que o futebol moderno é. Incompatíveis.
Ainda bem que o Uruguai é todo errado. O time que está na África do Sul vem da quinta dimensão. De um lugar em que os jogadores não se escondem para comemorar as vitórias com parrillada, nem reclamam da bola. E onde o técnico, além de convidar os adversários a assistir seus treinos abertos, divulga a escalação com dois dias de antecedência. Onde ganhar importa menos que ser bravo.
Claro que soa mais romântico do que prudente. Mas medo é algo que definitivamente não pertence ao tempo uruguaio.”


(Texto tirado do blog Desgarrados de Satolep 07/07/2010)

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