domingo, 8 de abril de 2012

41º FESTIVAL DA BARRANCA - SÃO BORJA 2012





Sem duvida nenhuma, o Festival da Barranca, realizado na cidade de  São Borja desde 1970, já lá se vão 41 edições pelo Grupo Amador de Artes “Os Angüeras”. É o festival mais autentico do Rio Grande, seja por suas normas pois mulheres não entram, seja pelo inusitado da data na sexta feira santa e no sábado de aleluia, e no seu formato, o tema é sorteado na sexta e em vinte quatro horas depois tem que ser apresentado. Um festival sui gênesis, há muito tempo deixou de ser um festival competitivo para ser uma celebração de arte e cultura para os barranqueiros que já estão na sua terceira geração, e graças ao Rio Uruguai a Barranca está palanqueada na cultura gaúcha. Quem quiser obter mais informações sobre o festival acesse o blog www.angueras.com.br. Gracia!!!


O FESTIVAL DA BARRANCA
Nada acontece por acaso, segundo a teoria dos racionalistas (estes caras que são alimentados a ração balanceada). Talvez tenham lá suas razões, os cujos. Menos no que se refere ao festival da Barranca. Este nasceu por acaso como os nenês de novembro, frutos da semeadura suada do Carnaval.
Pois sucede que o pessoal de Os Angüeras e mais alguns de achego, desde pelo menos 1965, realizavam duas grandes pescarias no ano: uma na Semana Santa, outra em setembro. A primeira para o tradicional jejum de carne (mulheres não nos acompanhavam e até hoje não). A outra na Semana da Pátria, para escapar (desculpa ...) dos chatíssimos desfiles que são a tônica da efeméride cívica.
Para uma e outra pescaria vinham de Porto Alegre o Antonio Augusto Fagundes (Nico) e o Carlinhos Castilhos (Passaronga), com o Juarez Bittencourt (Xuxu) algumas vezes e, quando em quando, com outras caras mais ou menos simpáticas.
E aí aconteceu. Por acaso, repito, contrariando os racionalistas. A gente estava no “Pesqueiro da Bomba”, no Rio Uruguai, na Semana Santa de 1972. Havia tomado umas que outras, alguém falou na Califórnia da Canção acontecida em primeira edição no dezembro anterior, em Uruguaiana, quando uma voz (acho que do Passaronga, outros acham que outro, há quem jure que de um espírito) sugeriu: - E se a gente fizesse o nosso festival? Aqui mesmo, no improviso, na barranca do rio?
... Então, naquela Semana Santa, noite de quinta-feira, ficou assentado em cepo de três pernas que se faria o festival. O Tio Manduca (disso sim, me lembro) propôs que as composições tivessem por base, tema único, nomeou-se o presidente da “Comissão” e lascou o tema: “Acampamento de Pescaria”. E aditou, enquanto me filava o trigésimo oitavo cigarro daquele dia: - Sábado de noite os artistas se apresentam. Vocês têm o dia todo de amanhã para trabalhar o tema. Tá resolvido ...


 ... Houve três concorrentes neste primeiro Festival da Barranca, que, naquela época e porque estava em seu início, não merecia as maiúsculas que lhe dou. Carlinhos Castilhos, só e mal acompanhado;
Nico Fagundes com “Fuça” no violão e, em dupla Zé Bicca e esta voz que vos fala.
Apresentadas as composições, por ordem de sorteio, cantou o Carlinhos (palmas, palmas e palmas), cantou o Bicca (idem, idem e idem) e finalmente o Nico (ibidem, ibidem e ibidem). A platéia, meio sobre a empolgação, assentava-se em semicírculo. Todos (eu disse todos) votaram. Menos os concorrentes, claro. Ganhou o Nico, com “Eu e o Rio” – hoje gravada, como tantas composições que nasceram na Barranca para ganhar alguns dos mais importantes festivais nativistas do Estado.
O detalhe, nisso tudo, é que a composição vencedora (linda, a melhor da noite), nada tinha a ver com o tema proposto. Cantava a relação espiritual de um amante descornado com as águas do Rio Uruguai. Mas o fato é que ganhou. O que prova, desde a idade da pedra dos festivais nativistas, que júri deste tipo de evento não é flor de cheirar com pouca venta.
A confraternização foi geral, o vencedor queria por que queria o prêmio (mas que prêmio caracos?). O Milton Souza ganiçava de raiva por que lhe haviam estragado a gravação (para a rádio São Miguel, ouviram?) por intervenção de calão não recomendável, eu achei que estava uma beleza, nada como o autêntico e o espontâneo para valorizar uma reportagem ... Aí o Milton me olhou de esquadro e eu saí pelo arrabalde. Pensando que Deus me desse saúde, engenho e arte, um dia eu ia escrever esse episódio.
O que faço, vinte anos mais velho, mas feliz. Porque o Festival da Barranca, nesse tempo, depois de catorze edições, faz por merecer as maiúsculas que agora lhe confiro.
 Apparício Silva Rillo - 1985

IMAGENS ARQUIVO DIEGO MULLER
A MÚSICA QUE GANHOU A 40° EDIÇÃO DA BARRANCA 

Um comentário:

  1. Estou interessada em realizar uma pesquisa bibliográfica sobre as razões de o Festival da Barranca ser realizado às margens do Rio Uruguai e a influência desse espaço na letra das músicas mas não encontro a letra das músicas do festival de 2012. Sou grande admiradora da cultura gaúcha e morei em São Borja por um tempo, o que me fez admirar o grupo Os Angueras .
    Aguardo e agradeço
    lenahdias@terra.com.br

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