Sem duvida nenhuma, o Festival da Barranca, realizado na cidade de São Borja desde 1970, já lá se vão 41 edições
pelo Grupo Amador de Artes “Os Angüeras”. É o festival mais autentico do Rio
Grande, seja por suas normas pois mulheres não entram, seja pelo inusitado da
data na sexta feira santa e no sábado de aleluia, e no seu formato, o tema é
sorteado na sexta e em vinte quatro horas depois tem que ser apresentado. Um
festival sui gênesis, há muito tempo deixou de ser um festival competitivo para
ser uma celebração de arte e cultura para os barranqueiros que já estão na sua terceira geração, e
graças ao Rio Uruguai a Barranca está palanqueada na cultura gaúcha. Quem quiser obter mais informações sobre o festival acesse o blog www.angueras.com.br. Gracia!!!
O FESTIVAL
DA BARRANCA
Nada acontece por acaso, segundo a teoria dos
racionalistas (estes caras que são alimentados a ração balanceada). Talvez
tenham lá suas razões, os cujos. Menos no que se refere ao festival da
Barranca. Este nasceu por acaso como os nenês de novembro, frutos da semeadura
suada do Carnaval.
Pois sucede que o pessoal de Os Angüeras e
mais alguns de achego, desde pelo menos 1965, realizavam duas grandes pescarias
no ano: uma na Semana Santa, outra em setembro. A primeira para o tradicional jejum de
carne (mulheres não nos acompanhavam e até hoje não). A outra na Semana da
Pátria, para escapar (desculpa ...) dos chatíssimos desfiles que são a tônica
da efeméride cívica.
Para uma e outra pescaria vinham de Porto
Alegre o Antonio Augusto Fagundes (Nico) e o Carlinhos Castilhos (Passaronga),
com o Juarez Bittencourt (Xuxu) algumas vezes e, quando em quando, com outras
caras mais ou menos simpáticas.
E aí aconteceu. Por acaso, repito,
contrariando os racionalistas. A gente estava no “Pesqueiro da Bomba”, no Rio
Uruguai, na Semana Santa de 1972. Havia tomado umas que outras, alguém falou na
Califórnia da Canção acontecida em primeira edição no dezembro anterior, em
Uruguaiana, quando uma voz (acho que do Passaronga, outros acham que outro, há quem
jure que de um espírito) sugeriu: - E se a gente fizesse o nosso festival? Aqui
mesmo, no improviso, na barranca do rio?
... Então, naquela Semana Santa, noite de
quinta-feira, ficou assentado em cepo de três pernas que se faria o festival. O
Tio Manduca (disso sim, me lembro) propôs que as composições tivessem por base,
tema único, nomeou-se o presidente da “Comissão” e lascou o tema: “Acampamento
de Pescaria”. E aditou, enquanto me filava o trigésimo oitavo cigarro daquele
dia: - Sábado de noite os artistas se apresentam. Vocês têm o dia todo de
amanhã para trabalhar o tema. Tá resolvido ...
... Houve três concorrentes neste primeiro
Festival da Barranca, que, naquela época e porque estava em seu início, não
merecia as maiúsculas que lhe dou. Carlinhos Castilhos, só e mal acompanhado;
Nico Fagundes com
“Fuça” no violão e, em
dupla Zé Bicca e esta voz que vos fala.
Apresentadas as composições, por ordem de
sorteio, cantou o Carlinhos (palmas, palmas e palmas), cantou o Bicca (idem,
idem e idem) e finalmente o Nico (ibidem, ibidem e ibidem). A platéia, meio
sobre a empolgação, assentava-se em semicírculo. Todos
(eu disse todos) votaram. Menos os concorrentes, claro. Ganhou o Nico, com “Eu
e o Rio” – hoje gravada, como tantas composições que nasceram na Barranca para
ganhar alguns dos mais importantes festivais nativistas do Estado.
O detalhe, nisso tudo, é que a composição
vencedora (linda, a melhor da noite), nada tinha a ver com o tema proposto.
Cantava a relação espiritual de um amante descornado com as águas do Rio
Uruguai. Mas o fato é que ganhou. O que prova, desde a idade da pedra dos
festivais nativistas, que júri deste tipo de evento não é flor de cheirar com
pouca venta.
A confraternização foi geral, o vencedor
queria por que queria o prêmio (mas que prêmio caracos?). O Milton Souza
ganiçava de raiva por que lhe haviam estragado a gravação (para a rádio São
Miguel, ouviram?) por intervenção de calão não recomendável, eu achei que
estava uma beleza, nada como o autêntico e o espontâneo para valorizar uma
reportagem ... Aí o Milton me olhou de esquadro e eu saí pelo arrabalde.
Pensando que Deus me desse saúde, engenho e arte, um dia eu ia escrever esse
episódio.
O que faço, vinte anos mais velho, mas feliz.
Porque o Festival da Barranca, nesse tempo, depois de catorze edições, faz por
merecer as maiúsculas que agora lhe confiro.
Estou interessada em realizar uma pesquisa bibliográfica sobre as razões de o Festival da Barranca ser realizado às margens do Rio Uruguai e a influência desse espaço na letra das músicas mas não encontro a letra das músicas do festival de 2012. Sou grande admiradora da cultura gaúcha e morei em São Borja por um tempo, o que me fez admirar o grupo Os Angueras .
ResponderExcluirAguardo e agradeço
lenahdias@terra.com.br