segunda-feira, 30 de abril de 2012

PROJETO SINUELOS 1





PROJETO SINUELOS

Nós do Minha Querência, através de nossos espaços, estamos propondo o “Projeto Sinuelos”,  a todos que sustentam a cultura regional, através dos CTGs, Piquetes, Grupos Folclóricos, Cabanhas e Associações, enfim todas as entidades que se fazem representar a cultura gaúcha.
A tradição gaúcha é feita por pessoas, portanto cabe a nós registrar estas pessoas, e não deixar na oralidade, pois certamente irão se perder ao longo do tempo, esta é a forma de deixar viva sua memória e seus feitos, através de registros, até para firmar-mos um tempo.
Nós do MQ, não é de agora que abordamos este assunto, estamos já a algum  tempo com uma série de postagens “Lendas Gaúchas do meu tempo” (ver pesquisas) no blog.

Se soubessem o valor que tem?

Quando um ginete, um laçador, um guasqueiro, um instrutor de danças, um declamador, um chuleador, um músico, um cantor, um poeta ou um escritor se desponta, se destaca em um grupo, este serve de referência e modelo para os mais jovens, que por sua vez passam a segui-lo, até mesmo na forma de vestir, pensar, posissionarem de fronte erguida,   por isso que firmamos o garrão neste projeto “SINUELOS”.





domingo, 29 de abril de 2012

LIVRO PILARES DA TRADIÇÃO





 “Pilares da Tradição”. O livro, escrito pelo jornalista Renato Mendonça, faz o registro da vida e obra de artistas que construíram a cultura tradicionalista do Rio Grande do Sul: Paixão Côrtes, Telmo de Lima Freitas, Antônio Augusto Fagundes e Adelar BertussI.
Ao longo de 200 páginas estão reunidas entrevistas com os “Pilares”, além de ensaios fotográficos, a cargo de Emílio Pedroso, e fotos de arquivo pessoal dos entrevistados. O projeto gráfico é assinado por Carol Ruwer.
 Com tiragem de mil exemplares, a edição do “Pilares da Tradição” foi apoiada, via Lei Rouanet, pela Unifertil e tem coordenação geral da Liga Produção Cultural. Todos os bastidores da produção do livro podem ser acompanhados pelo blog do projeto pilaresdatradicao.tumblr.com.

Os Pilares

Antônio Augusto (Nico) Fagundes, alegretense, 77 anos, é poeta, músico e jornalista, com expressiva presença na mídia gaúcha, tendo lançado nomes como Jayme Caetano Braun, Aparício Silva Rillo e José Hilário Retamozo. Compôs em parceria com Bagre Fagundes o “Canto Alegretense”.
Adelar Bertussi, caxiense, 79 anos criou ao lado do irmão Honeyde (1923 – 1996) o que se considera o primeiro conjunto de baile de música tradicionalista gaúcha. Mais que isso, os Bertussi temperaram nosso tradicionalismo com o sotaque e a alegria dos colonos italianos. Com Honeyde, criou “Oh de Casa”.
Paixão Côrtes, 84 anos, ao lado de Barbosa Lessa (1929 – 2002) e Glaucus Saraiva (1921 – 1983), construiu e registrou boa parte do que hoje se considera o folclore gaúcho. Entre as várias músicas que compôs e adaptou estão “Xote Carreirinha” e “Balaio”.
Telmo de Lima Freitas, são-borjense de 79 anos, é autor de clássicos da música gaúcha como “Prece ao Minuano” e “Esquilador”, figura de proa nos festivais nativistas, cultiva os vários regionalismos do Rio Grande.

Os autores

Renato Mendonça foi editor de área no Segundo Caderno do jornal Zero Hora, de Porto Alegre, entre 1994 e 2010. Atualmente é mestrando em Artes Cênicas da UFRGS. Conquistou o Prêmio ARI 2005 (Associação Rio-Grandense de Imprensa) de melhor reportagem cultural em jornalismo gráfico com “Ilha das Flores”, o 8º Prêmio Setcergs 1994/1995 em Jornal, além da Menção Honrosa no Prêmio ARI 2007 de Reportagem Cultural pela matéria “Paixão pelo Sul”. Entre 2002 e 2010, editou os livros “Planeta Atlântida” (RBS Publicações), “Escola Projeto 20 Anos” (Projeto), “Hospital Schlatter” (independente), “O Homem que Enganou o Tempo” (independente) e “Arnaldo Campos – Um Livreiro de todas as Letras” (coedição do Escritório do Livro da Edunisc).

Emílio Pedroso trabalha desde 1990 no jornal Zero Hora, em Porto Alegre. Foi premiado em diversos concursos de fotografia, com destaque para o primeiro lugar de fotografia jornalística de 1985, escolhido pela Associação Riograndense de Imprensa (ARI). Em 2007 e 2009 venceu o concurso fotográfico promovido pelo Sindicato das Empresas de Transporte de Cargas e Logística no Estado do Rio Grande do Sul (Setcergs).

GRUPO SONIDO DE ALMA GAUCHA


O grupo “Sonido del Alma Gaucha” foi formado no ano de 2003 com o objetivo de trazer ao palco os valores literários e musicais do Gaúcho, bem com músicas dos folclores uruguaio e argentino.
As canções são escolhidas de forma a proporcionar um espetáculo animado e interativo oferecendo ao público entretenimento cultural.
Lançou o CD "Confraria de Fronteira" em 2008. A obra caracteriza-se como um resumo do trabalho do grupo até o momento, trazendo oito temas autorais. Em 2009 lançou o CD "Hermanos Pampeanos". O disco, indicado ao Prêmio Açorianos da Música Gaúcha na Categoria ”Melhor Disco Regional”, inovou trazendo um clipe multimídia para a música "A arte pela história de um povo". Em 2011 concebeu o CD “Rio-grandense e Platino”. Com a produção musical do acordeonista Luciano Maia, o álbum destaca-se pela influência Latino-americana dos ritmos.
Apresentou seu trabalho no RS em toda a região da campanha, litoral sul, fronteira oeste, missões, serra; em Porto Alegre e região metropolitana, em São Carlos (SP), Assunción (Paraguai) e Melo (Uruguai).
Desde então mantem o propósito de, através da música, levar a mensagem da harmonia cultural existente entre Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina.

 Alessandro Vaz de Mattos
Fones: 53-3247 1366 e 53-9108 7697


domingo, 22 de abril de 2012

LUIZ ALBERTO PONT BEHEREGARAY - BEREGA



BEREGA

LUIZ ALBERTO PONT BEHEREGARAY

Luiz Alberto Pont Beheregaray, conhecido por Berega, nasceu em 26 de maio de 1934 em Uruguaiana, Rio Grande do Sul, Brasil, e falecido em 09 de abril de 2012, na mesma cidade.
Desenvolveu seu gosto e talento pelo desenho ainda na infância mas somente passou a trabalhar profissionalmente como artista plástico no início da década de 70.
Sua temática foi recorrente às impressões da cultura de sua terra, sua região e suas impressões de sua infância em meio ao pampa gaúcho: sua gente, sua cultura e suas coisas e o inseparável cavalo. Neste quesito, rompeu fronteiras e o retratou em inúmeras raças, nos infinitos movimentos, usos, culturas e esportes.
Apaixonado pela cultura regional gauchesca, é um estudioso meticuloso de todos os aspectos relacionados, de sua história aos seus costumes. De suas matizes às suas texturas. De seus movimentos à sua impressão estática de sua forma. De sua força à complascência na fragilidade de linhas tênues e delicadas perpetuadas em seu trabalho.
Tem sido sempre lembrado pelos tradicionalistas, estudiosos e artistas por ter marcado referência em vários aspectos, recebendo ainda homenagens e citações em outras obras como poesias e letras de músicas.
Berega em seu traço forte, meticulosamente trabalhado, vai desde o lado jocoso dos tipos terrunhos nos sempre lembrados Calendários da Petróleo Ipiranga S.A. às centenas de retratos realistas de pessoas e animais usando uma técnica que aprimorou por anos na pintura sobre couro como suporte.
Mostrando desenvoltura do desenho à pintura, do humor ao retrato realista, nunca deixou de estudar à fundo os detalhes, os porquês, a origem. Reflete assim um artista que sempre buscou o completo e o fiel embasado em sua pesquisa, características de seriedade com seu trabalho e disposição na busca da melhoria contínua.

* 26/05/1936
+ 09/04/2012

Fonte: site www.berega.com.br
 

quarta-feira, 18 de abril de 2012

ESTÂNCIA DA POESIA CRIOULA





A Estância da Poesia Crioula, Academia Xucra do Rio Grande,
tem a honra de anunciar os vencedores dos seguintes eventos:

1º CONCURSO DE
 POESIA GAUCHESCA
JAYME CAETANO BRAUN

1º lugar
Um canto a dois rincões
Autor: Carlos Athaydes de Lima Alves 
 Porto Alegre

2º lugar
Rio Grande de espora e mango
Autor: Evilácio Barbosa Saldanha 
 Porto Alegre

3º lugar
Madrinha do Progresso 
Autor: Luiz Onério Pereira 
 Cruz Alta

4º lugar
Chasque para Marcel II
Autor: Sebastião Teixeira Corrêa
 Caxias do Sul

5º lugar
Cavalgando no tempo  
Autor: Agenor de Mello Coelho 
 São Lourenço do Sul


1º CONCURSO DE 
CAUSO GAUCHESCO
APPARICIO SILVA RILLO

1º lugar
O susto do Manduca 
Autor: Luiz Onério Pereira 
 Cruz Alta

2º lugar
O homem não sabia o que era assombro
Autor: Sued Macedo
Porto Alegre

3º lugar
A veia gineta 
Autor: Severino Rudes dos Santos Moreira  Candiota

4º lugar
O topetudo    
Autor: Alcione Sortica

5º lugar
Lembrança da Prenda Minha 
Autora: Eloísa Rodrigues Porazza

Comissão Avaliadora:
Danci Ramos, Léo Ribeiro de Souza e Cristiano Ferreira.

domingo, 15 de abril de 2012

CANOAS S.C - DA TERRA



Como em toda as cidades tradicionais  do Rio Grande do Sul, com uma cultura regional muito acentuada, Pelotas, Santa Maria, Caxias do Sul, Rio Grande, Novo Hamburgo, Ijui, Santa Cruz, Porto Alegre, Lageado e outras. Nós canoenses também temos esta paixão com o futebol, está na hora de adotarmos, abraçarmos o Tricolor Canoense, o Leão Jubão.
Então canoenses, tanto gremistas como os colorados se unam ao tricolor canoense.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

VENCEDORES DO 41º FESTIVAL DA BARRANCA


 

Festival da Barranca,que é realizado em São Borja, chegou à 41ª edição neste final de semana e revelou suas vencedoras. Este festival fechado, idealizado pelo Grupo Os Angueras, tem a característica de ser temático e ainda com um prazo de 24 horas para a produção das composições. O diretor do evento, Marco Antônio Loguércio, informou ao blog ABC do Gaúcho, que 250 convidados participaram do evento, sempre marcado para a Semana Santa. O tema foi Próxima estação.

1º lugar - Na estação ali na frente
Tadeu Martins, Miguel Tejera e Pirisca Grecco

2º lugar - Expresso 41

Juca Moraes e Samuel Costa

3º lugar - Marco de tempo novo

Edegar Paiva, Flori Wegner, Glênio Vieira, 
Jauro Gehlen e Toco Soledade

Melhor letra - Ontem e hoje

Antônio Augusto Fagundes

Troféu Cigarra de Acampamento 
Carlos Cachoeira 


 MÚSICA MARCO DE TEMPO NOVO, 3º LUGAR NA BARRANCA 2012

domingo, 8 de abril de 2012

PÁSCOA GAÚCHA - 2012



SEIVA VERDE

Seiva verde, mate é vida
Assim diz o poeta
Um sábio, profeta!
A cada mate cevado
Por Tupã abeçoado.
E a alma pampa renasce
No amargo que é prece
Pelo gaúcho consagrado.

Isto não é páscoa?
Na consagração da vida
A natureza se faz sentida.
Da cacimba a essência,
Na cuia a experiência,
A seiva da erveira,
E a Tacuapi missioneira,
São troncos da querência.

Roda que roda e não anda
E a cuia de mão em mão,
Nesta campeira comunhão
Não tem quantidade
É esta a fertilidade
Na irmandade do rincão.
Onde se eterniza a tradição
Na igualdade e na fraternidade
Isto é páscoa meu irmão.

 (José Luis Biulchi de Souza)
 

41º FESTIVAL DA BARRANCA - SÃO BORJA 2012





Sem duvida nenhuma, o Festival da Barranca, realizado na cidade de  São Borja desde 1970, já lá se vão 41 edições pelo Grupo Amador de Artes “Os Angüeras”. É o festival mais autentico do Rio Grande, seja por suas normas pois mulheres não entram, seja pelo inusitado da data na sexta feira santa e no sábado de aleluia, e no seu formato, o tema é sorteado na sexta e em vinte quatro horas depois tem que ser apresentado. Um festival sui gênesis, há muito tempo deixou de ser um festival competitivo para ser uma celebração de arte e cultura para os barranqueiros que já estão na sua terceira geração, e graças ao Rio Uruguai a Barranca está palanqueada na cultura gaúcha. Quem quiser obter mais informações sobre o festival acesse o blog www.angueras.com.br. Gracia!!!


O FESTIVAL DA BARRANCA
Nada acontece por acaso, segundo a teoria dos racionalistas (estes caras que são alimentados a ração balanceada). Talvez tenham lá suas razões, os cujos. Menos no que se refere ao festival da Barranca. Este nasceu por acaso como os nenês de novembro, frutos da semeadura suada do Carnaval.
Pois sucede que o pessoal de Os Angüeras e mais alguns de achego, desde pelo menos 1965, realizavam duas grandes pescarias no ano: uma na Semana Santa, outra em setembro. A primeira para o tradicional jejum de carne (mulheres não nos acompanhavam e até hoje não). A outra na Semana da Pátria, para escapar (desculpa ...) dos chatíssimos desfiles que são a tônica da efeméride cívica.
Para uma e outra pescaria vinham de Porto Alegre o Antonio Augusto Fagundes (Nico) e o Carlinhos Castilhos (Passaronga), com o Juarez Bittencourt (Xuxu) algumas vezes e, quando em quando, com outras caras mais ou menos simpáticas.
E aí aconteceu. Por acaso, repito, contrariando os racionalistas. A gente estava no “Pesqueiro da Bomba”, no Rio Uruguai, na Semana Santa de 1972. Havia tomado umas que outras, alguém falou na Califórnia da Canção acontecida em primeira edição no dezembro anterior, em Uruguaiana, quando uma voz (acho que do Passaronga, outros acham que outro, há quem jure que de um espírito) sugeriu: - E se a gente fizesse o nosso festival? Aqui mesmo, no improviso, na barranca do rio?
... Então, naquela Semana Santa, noite de quinta-feira, ficou assentado em cepo de três pernas que se faria o festival. O Tio Manduca (disso sim, me lembro) propôs que as composições tivessem por base, tema único, nomeou-se o presidente da “Comissão” e lascou o tema: “Acampamento de Pescaria”. E aditou, enquanto me filava o trigésimo oitavo cigarro daquele dia: - Sábado de noite os artistas se apresentam. Vocês têm o dia todo de amanhã para trabalhar o tema. Tá resolvido ...


 ... Houve três concorrentes neste primeiro Festival da Barranca, que, naquela época e porque estava em seu início, não merecia as maiúsculas que lhe dou. Carlinhos Castilhos, só e mal acompanhado;
Nico Fagundes com “Fuça” no violão e, em dupla Zé Bicca e esta voz que vos fala.
Apresentadas as composições, por ordem de sorteio, cantou o Carlinhos (palmas, palmas e palmas), cantou o Bicca (idem, idem e idem) e finalmente o Nico (ibidem, ibidem e ibidem). A platéia, meio sobre a empolgação, assentava-se em semicírculo. Todos (eu disse todos) votaram. Menos os concorrentes, claro. Ganhou o Nico, com “Eu e o Rio” – hoje gravada, como tantas composições que nasceram na Barranca para ganhar alguns dos mais importantes festivais nativistas do Estado.
O detalhe, nisso tudo, é que a composição vencedora (linda, a melhor da noite), nada tinha a ver com o tema proposto. Cantava a relação espiritual de um amante descornado com as águas do Rio Uruguai. Mas o fato é que ganhou. O que prova, desde a idade da pedra dos festivais nativistas, que júri deste tipo de evento não é flor de cheirar com pouca venta.
A confraternização foi geral, o vencedor queria por que queria o prêmio (mas que prêmio caracos?). O Milton Souza ganiçava de raiva por que lhe haviam estragado a gravação (para a rádio São Miguel, ouviram?) por intervenção de calão não recomendável, eu achei que estava uma beleza, nada como o autêntico e o espontâneo para valorizar uma reportagem ... Aí o Milton me olhou de esquadro e eu saí pelo arrabalde. Pensando que Deus me desse saúde, engenho e arte, um dia eu ia escrever esse episódio.
O que faço, vinte anos mais velho, mas feliz. Porque o Festival da Barranca, nesse tempo, depois de catorze edições, faz por merecer as maiúsculas que agora lhe confiro.
 Apparício Silva Rillo - 1985

IMAGENS ARQUIVO DIEGO MULLER
A MÚSICA QUE GANHOU A 40° EDIÇÃO DA BARRANCA 

sexta-feira, 6 de abril de 2012

SEXTA FEIRA ROXA DA PAIXÃO - A FÉ DO ÍNDIO MISSIONEIRO


EU, SANTO DE MADEIRA, PECADOR.

Dispo-me da camisa,
Da calça,
Do calçado,
Do chapéu sobre o cabelo,
Do cabelo, da sobrancelha,
Do bigode triste,
Das rugas e vincos sobre a boca amarga,
Dos duros pecados da alma,
Dos pecados frutificantes do corpo
 
Encarno-me na imagem castigada
Tomo seu corpo de século e madeira.
Diluo-me em lenho e cerne.
Enrijeço-me em braços de doação e mãos de oferta.
Planto-me em duras pernas sugeridas
Enfibram-se férreos meus músculos dúcteis,
Meus dedos de baile e flor,
Meus viajeiros pés.
Meus olhos enquietos aquietam-se em seus olhos
Parados de verde-tempo pintalgo a ouro.
Meu coração se faz semente na jaula de corpo morto
- vegetal desseivado pelo corte.
Renasço-me em vertical ascensão de fuste ao vento,
Alto de vigoroso tronco,
Garços galhos ágeis,
Úmida folhagem de pássaros,
Canora pluma de ninhos
Bandeira de temporais,
Assomo e sombra.

- Cedro secular no campo escampo.
O machado me abate – tombo e traço.
A lâmina me corta – forma e fôrma.
A mão do artista me acarinha em cortes,
Adegalça-me o torso.
De repente a curva na testa, o nariz, olhos e boca.
O duro queixo de sacrificado.
O gesto de perdão na corola da mão.
Vestem-me a rosa, o carmim, o ouro, o azul.
A água santa me banha, o incenso me seca.
Uma coroa,
Uma cruz,
Um nome qual.
Da oficina ao andor, do andor ao altar,
Dobra-se por mim o joelho do índio.
Por mim
Madeira humanizada em corte e cor.
Como filho de Deus na escarpa mais alta do monte
Vejo a nascente Redução à sombra de meus pés

A reta geometria do povoado
E pedra a pedra o tempo áspero plantado.
Negra a roupeta do padre.
O torso do guarani, músculo e cobre
Vestidos de suor.

Vigilância no azul
O mangrulho espantando a distância

No dobre do sino o galope dos potros mal domados,
Disparando,
O vento mordendo a cara,
Enflechando o cabelo,
Rindo no lábio do índio,
Cantando flautas nas lanças de taquara.
O berro do touro secou no couro ao sol.
Desenha sóis no circulo do laço,
Girândola no zum das boleadoras.
O loiro pendão do milho,
A mão na mão do pilão
Batendo,
Tambor tão bom,
Socando, tocando.
E do grão a farinha
E da farinha ao pão.

Caminham capuchos de algodão nas vestes claras.
Ajoelham-se em saias genuflexas,
Na sombra insensata e úmida do templo.
Rótulas na dura pedra; “Sursum Corda”...

Dói-me nos olhos as lagrimas do índio
Que me louva em latim e uiva como um cão
- Na Sexta-Feira Roxa da paixão.
Dói-me seu pecado contra o sexto mandamento,
Menos luxúria que o bom instinto são
- Na Sexta-Feira Roxa da Paixão.

Dói-me sua carne flagelada a japecanga
-Na Sexta-Feira Roxa da Paixão.

Dói-me a rubra chama do archote em sua mão
- Na Sexta-Feira Roxa da Paixão.

Dói-me velo dobrado a meus pés, irracional irmão
-Na Sexta-Feira Roxa da Paixão.

E morro no altar-mor a seu coro de angústias,
Quando os versos do “Cristo Nhandejara”,
Cantam do chão para o céu
E do céu para o chão...
“Conte, êbate, ynenbohi acuera.
Ah. Cristo Nhandejara!”

Sem que eu lhe mereça esta entrega de amor,
Eu,
Santo de madeira,
Pecador.

APPARÍCIO SILVA RILLO