ANTES TARDE DO QUE NUNCA
Na imensa viagem que é a vida da
gente, vivemos encontrando viajantes iguais a nós, outros nem tanto, uns
parecem ser parceiros mas descem logo na primeira estação. E nesta toada é que
se constitui a nossa vida, como já disse um cantor sertanejo “Nessa longa
estrada da vida...”
A vida sempre nos surpreende, as amizades surgem do nada e vão ficando como se fossem velhos amigos. É o caso
desse novo parceiro, mas que parece que faz parte desde a primeira edição.
Apresentar Juarez Miranda aos senhores seria uma tarefa das mais fácil tendo um extenso currículo na internet, mas vou deixar que ele mesmo se
apresente.
Com os senhores Juarez Miranda
“Da laia de um caborteiro”
DA LAIA DE UM CABORTEIRO
Segundo o poeta cubano José Martí Pérez há três coisas que um
homem, para dizer que está realizado, deve por em prática durante a vida:
plantar uma árvore, ter um filho e escrever um livro.
Pois estou neste caminho: quando se passaram vinte anos, eu
plantei uma árvore, se passaram trinta anos eu tive a primeira filha e enquanto
passam os outros trinta anos vou escrevendo.
Quem sabe um livro?
Escrever não é bem o termo. Na verdade rabisco letras, expresso
idéias e não obrigatoriamente textos e/ou poemas.
Por isso não me vejo poeta ou escritor, sou um simples
rabiscante. E pior: bissexto, para não dizer trissexto.
Há muito tempo venho escrevendo pouco e, principalmente,
bebendo muito - e de tudo.
Quando eu, por exemplo, bebo champanhe, paralelamente, fico
decodificando pensamentos figurativos, que escancaradamente se assemelham ao
movimento concretista, entretanto, mesmo bebendo champanhe e, fazendo, de forma
desbragada, imitação da concepção de arte concreta, assumidamente, sou um homem
do meu tempo e para expressar esta linguagem pictórica - que fala por si só -
utilizo-me de produtos cibernéticos.
Talvez, o fato de transmutar a palavra, a ponto de dar-lhe uma
outra forma com o uso da informática, me enquadre no filão dos
ciber-neo-concretistas.
Quando literalmente bebo na seara urbanística - troco o
champanhe pelo uísque - e saio pelas ruas, para sentir a pulsação do cotidiano
popular. Vejo a urbis, com suas
ruas-veias, como um organismo vivo, por onde circulam elementos-vidas e
ônibus-sangue e os percebo como meu estro inspirador.
Então, neles embarco e, aí sim, rabisco versos.
Certo dia, por iniciativa de uma das filhas, sob a sombra da
árvore que plantei fui instado a mostrar para uns pseudo-amigos, minha produção
verbi-voco-visual.
Alguns - exatamente os
que não sabiam nada sobre situações quase poético-literárias - me desafiaram a
inscrever um ou dois, digamos, poemas, em algum concurso, para ver se era
possível ver alguma qualidade naquele calhamaço de papel, todo rabiscado,
rascunhado, desgrenhado e até meio embolorado.
Desta forma, mais obrigado que desafiado, coloquei a humanidade
em risco de ter mais um medíocre escrevedor de versos.
Assim, por ocasião da 19ª. edição do Concurso Poemas no Ônibus
e no Trem, realizado pela prefeitura municipal de Porto Alegre, no ano de 2010,
bebi além da conta, tomei coragem e resolvi colocar minha obra em avaliação.
A escolhida para o sacrifício foi a "Súplica de Um
Passageiro Apaixonado". Entre mais de setecentas obras, a
"Súplica" foi inscrita, julgada e selecionada para, entre as quarenta
escolhidas, figurar nos ônibus e trens metropolitanos.
No ano seguinte - 2011 - resolvi repetir a traquinagem. Para a
20ª. edição do Concurso Poemas no Ônibus e no Trem, também realizado pela
prefeitura municipal de Porto Alegre, inscrevi "Versironia".
Mais de novecentas inscrições e vinte e cinco escolhidas,
inclusive "Versironia".
Fiquei assanhado. Inscrevi "Doidiversos" na 8ª.
edição do Concurso Poemas no Ônibus, coordenado pela prefeitura municipal de
Gravataí. Esta produção foi inscrita, julgada e selecionada, ficando entre as
trinta que circularam nos ônibus que trafegam por toda a região metropolitana.
Já, na 1ª. edição do Concurso Poemas no Ônibus - Projeto Poesia
Passageira - organizado pela prefeitura municipal de Esteio, duas obras foram
enviadas para o concurso e ambas: "Vide Verso" e "Dúvida
Cruel" foram julgadas e selecionadas, ficando entre as trinta e cinco que
circularam nos ônibus que rodam no referido município e regiões adjacentes.
Ainda em 2011, inscrevi mais duas composições: “Sambadeus” e
“Coraçamba”, no Concurso Nacional de Poemas nos Ônibus, organizado pela
Prefeitura Municipal de Santo Ângelo e Academia Santo-angelense de Letras.
Ambas foram premiadas.
Em 2012, escrevi “Obstação”, que foi inscrita na 9ª edição do
Concurso Poemas no Ônibus, organizado pela prefeitura municipal de Gravataí.
Esta produção além de selecionada para circular nos ônibus que trafegam por
toda a região metropolitana, ainda foi escolhida pela Fundação de Arte e
Cultura para fazer parte, no Quiosque da Cultura, da Exposição Arte sobre Arte
- Poemas e ilustrações: a relação entre imagens e palavras.
Em 2013, desta vez por ocasião da 10ª edição do Concurso Poemas
no Ônibus, também em Gravataí, recebi a premiação por dois trabalhos: “Desdita”
e “Cambicheiro”.
Haja uísque!
Quando não bebo nem o champanhe e nem o uísque, me enlevo com a
cachaça.
E, entre um e outro talagaço, rasgando a goela, geralmente à
sombra do "meu" frondoso cinamomo e acompanhado por um chimarrão bem
cevado, escarceia o coração bagual, que corcoveando nas coxilhas do pensamento,
vai disparando rimas redomonas que espelham minha alma gaudéria, e campeiam uma
parceria qualquer, que pode ser com o murmurar do arroio no remanso da
restinga, com o sarandeio das flexilhas do pasto que rebrota no potreiro e com
o cheiro de bosta de vaca que recende quando se transpassa a cancela da
mangueira.
Com esta charla de campeiro, de quem não só conhece o jeito de
prosear, mas vive e sabe das lidas e das baldas dos taitas da pampa sulina,
venho, faz um tempito, embuçalando coplas, lonqueando rimas e trançando versos,
que mais carrego nas bruacas do peito, porque acho que eles não teem cancha
para estar nos balaios de algum balcão de bolicho.
Mas, às vezes, um ou outro destes versos tem se soltado ao
vento, como o tropel de um redomão. E, mesmo tendo aprendido com a lida de
campo que não se embuçala um caborteiro, um dia, também quis sentir a chincha e
o tironear de um sovéu nos versos crioulos que produzi.
Aproveitei a olada e, em 2011, rabisquei "Repechos de um
Andarengo" e inscrevi esses versos na 7ª Edição do concurso de música e
poesia "Uma Canção para Santa Vitória do Palmar", coordenado pela
prefeitura desta cidade.
A obra foi julgada e escolhida para ser apresentada entre as
doze que foram ao palco e classificada para concorrer, na finalíssima, entre as
três selecionadas. Foi premiada pelo voto do público presente, como a poesia
mais popular.
Em 2012, participei do 2º Concurso Cultural Literário do
Piquete Chama Nativa, no qual tive o poema “Oração do Domador” premiado.
No mesmo ano, desta vez com o poema “Embromas de Calaveira” fui
classificado no 3º Concurso Literário de Poesia Rio Grande Lírico, organizado
pela Estância da Poesia Crioula e ainda tive outros dois poemas, “Chinóca
Caborteira” e “Lenço Missioneiro” classificados na 1ª Seleta da Poesia Crioula,
organizada pela Associação Cultural da Bossoroca e CTG Sombra de Carreteiro.
Posteriormente as mesmas duas obras foram escolhidos para a compilação de um
livro com poemas de vários poetas, em homenagem ao Payador Jaime Cetano Braun.
Já em 2013, novamente fui premiado pela Estância da Poesia
Crioula. Agora, por ocasião do 4º Concurso de Poesias Oliveira da Silveira, com
o poema “Legado a Um Lanceiro Negro” e principalmente, como citei
anteriormente, tive o poema "Cambicheiro" classificado na 10ª edição
do Concurso Poemas no Ônibus, organizado pela Prefeitura Municipal de Gravataí.
Como se pode notar pelo título, trata-se um poema de conotação
gauchesca, com uma linguagem de sotaque galponeiro, que pela primeira vez em
mais de 20 anos do início do concurso e mais especificamente, no caso de
Gravataí, há exatos 10 anos, escolhem e divulgam um poema representativo da
cultura nativa.
Mesmo escrevendo na forma de artigos há muito tempo, somente em
2014, passo a expressar-me publicamente por meio de ensaios literários curtos,
com um leque que varia entre o poético e o didático, onde – por meio da
dissertação narrativo-descritiva - expresso opiniões, ideias, críticas, reflexões
e a respeito da cultura gaúcha.
Para tanto escrevo uma coluna – Charla de Peão – no Jornal
Regional do Comércio, com circulação no litoral norte do Rio Grande do Sul e
cuja replicação, sistemática, acontece na internet nos sites Prosa Galponeira,
Sitio do Gaucho Taura e Juntando Rimas, bem como no programa Gritos do Quero
Quero, na Rádio Acácia FM e no Jornal Digital A Semana, ambos de Alvorada.
Bueno! Agora acho que isso tudo me permite pensar que a cancela
foi aberta e será difícil segurar o flete das letras só no potreiro do coração.
Só parando de beber.
Mas, quando não bebo, escrevo bobagens.
Hoje estava sóbrio.
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